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OPINIÃO CRUZEIRO – TANTAS ALEPO’S

Escrito por em Janeiro 18, 2018

Estou de regresso a este espaço na Opinião Cruzeiro. A regularidade destas minhas crónicas tem estado muito longe de ser a ideal (devido a razões várias) mas prometo um esforço para a melhorar.

Na primeira crónica de um novo ano, como é o caso desta, seria normal eu fazer um balanço do ano que passou e/ou uma projecção do ano que começa.

Desta vez, porém, decidi fugir a esta “regra” e enveredar por outro caminho – lembrei-me de ir ver o que escrevi na minha primeira crónica de 2017.

Foi uma crónica curta e intitulei-a “Em Alepo também houve Natal”. Nela falei de um Natal em Alepo porque nesta cidade ainda viviam, há um ano atrás, 50.000 cristãos (antes da guerra eram o triplo). Nessa crónca falei de (in)tolerância, de amor e de ódio, de compaixão e de morte. Falei ainda da nossa indiferença, passividade e egoísmo mas também falei de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Falei de Alepo mas também falei do Sudão, da Nigéria, das Filipinas, do Iraque, da Serra Leoa, do Sri Lanka, da República Centro-Africana, do Afeganistão, do leste da Ucrânia, da Somália, da Birmânia. A estes locais, onde também houve Natal, posso acrescentar mais umas dezenas de outros onde se vive (e morre) sem qualquer ponta de dignidade mas destaco, neste momento, um – o Iémen, país onde a própria ONU afirma que “quase todas as crianças precisam de ajuda humanitária”, onde quase dois milhões de crianças estão “agudamente desnutridas”, onde (segundo a UNICEF), 5.000 crianças já foram mortas ou feridas pela guerra.

O Iémen é, neste momento, a maior crise humanitária do mundo.

Sim, podemos falar de Natal mas nunca podemos deixar de falar da Humanidade e da dignidade inerente a cada ser humano.

Temos que olhar para o lado e para os nossos semelhantes (tanto os que estão ao nosso lado, como os que estão em outras latitudes), temos que falar de Direitos Humanos, esse patamar ético mínimo para um mundo melhor, mais justo e em paz. Mas há, também que lutar por eles, exigi-los incondicionalmente para cada ser humano, onde quer que ele esteja, sem distinção de qualquer tipo.

Num ano, Alepo não desapareceu e pouco mudou. Continua a ser a mesma terra de guerra, de sofrimento, de destruição e de ódio. Infelizmente, não está sozinha como cenário de devastação humana e moral. Há mais Alepos e Iémen’s pelo mundo. Demasiados, quando uma situação destas já é demais.  Pode-se fingir que não se vê ou que não se sabe mas essas Alepo’s e Iémen’s estão lá. Sempre! E chamam por nós. Não podemos ser surdos, nem cegos. É imoral.

Daqui a um ano, em Janeiro de 2019, gostaria de poder fazer uma crónica diametralmente diferente desta.

Até para a semana. Desfrutem de Odivelas!

Fernando Sousa Silva 
Sociólogo