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Opinião Cruzeiro: Fará sentido escolher quem escolhe prejudicar-nos?

Escrito por em Setembro 18, 2019

 

Considero pertinente recuperar hoje os princípios que me regem nestas reflexões. Pretendo que este seja um espaço de opinião, livre, construtivo, expositivo e eventualmente propositivo sobre temas que se relacionam com a vida do concelho de Odivelas, ou com interesse para os odivelenses, sendo que tudo farei para que as opiniões emitidas sejam contagiadas por todas as formas de pensamento que eu considerar pertinentes. Esta é a minha tábua de valores e estes são os meus objectivos de fundo, quando semana após semana reflicto sobre os mais diversos temas. Que fique assim claro que não movem outros quaisquer quereres nem credos.

 

No próximo dia 6 de Outubro seremos chamados a escolher por intermédio do voto, aqueles que desejamos que liderem a coisa pública. Se desejarmos que essa escolha seja racional, há pelo menos três pilares que devemos considerar:

1.º Pilar: A qualidade das propostas apresentadas pelas diversas forças políticas nos seus programas;

2.º Pilar: O histórico de execução e de cumprimento quer dos partidos proponentes, quer ainda dos candidatos;

3.º Pilar: A tábua de valores da comunidade, tal como a vemos, bem como a nossa própria tábua de valores.

Sei que dito assim até parece fácil, contudo assim não é. Seja pela natureza do acto político que são as eleições, seja o ruído, sejam por uma infindável de lista de factores endógenos e exógenos a cada de um de nós, este é mesmo um exercício difícil de formular, a escolha consciente.

 

Se melhor não se conseguir, pelo menos há algo que deveremos ponderar e colocar em confronto. Por um lado aquilo que consideramos mais importante ter ou vir a ter e por outro se fará sentido escolher quem julgue que pode prejudicar-nos.

 

É do conhecimento de muitos o meu envolvimento pessoal no processo que envolve a amputação da Linha Amarela do Metro. Esta é uma questão estruturante e que afecta a vida das populações da Estrela, de Carnide, de Telheiras, do Lumiar, de Odivelas, de Loures, de Mafra e de outros concelhos do Oeste, estimando-se que possa afectar bem mais de meio milhão de cidadãos. Será até muito aceitável que cada um dos eleitores desta área geográfica faça reflectir no seu voto, na sua escolha, no próximo dia 6 de Outubro, o quão importante considera para a sua vida o corte previsto para a Linha Amarela em 2023/2024. Facto é, que nos seus programas eleitorais há quem – e as escolhas são mesmo muitas – expressamente afirme que pretende terminar imediatamente este processo e por outro, há um partido que parece desejar que este projecto avance. Parece, porque nitidamente tal não é consensual dentro das suas próprias hostes, mas quem o dirige deseja algo que a todos fará mesmo muito mal.

 

Sem prejuízo de quer no site da Rádio Cruzeiro, quer na página do Facebook Contra o Fim da Linha Amarela, se poder encontrar muita informação sobre este dossier, hoje tentarei enquadrar de forma mais sucinta possível este processo.

 

Em 1993, dois candidatos autárquicos, Vítor Peixoto, então candidato à Junta de Freguesia de Odivelas e António Costa, candidato à Câmara Municipal de Loures, assumiram nos respectivos programas de candidatura àqueles órgãos, a ligação ferro-carril de Lisboa a Odivelas, numa época em que chegar de Odivelas a Lisboa via Calçada de Carriche era a única opção e que tal implicava horas e horas no trânsito.

 

Foi esta a medida mais emblemática do programa eleitoral assumida por ambos, que ficou marcada pela célebre corrida do Ferrari e do burro como simbolismo das dificuldades sentidas pelos Odivelenses.

 

A 13 de Julho de 1997, contando com a presença dos Secretários de Estado António Costa e Crisóstomo Teixeira, o então Ministro João Cravinho veio anunciar o projecto de extensão do Metro a Odivelas através da linha amarela.

 

Em Março de 2017, e seguindo um “boneco” desenhado para ganhar as eleições autárquicas de 2009, na surdina, dentro dos Gabinetes surge o Plano de Desenvolvimento Operacional da Rede do Metropolitano de Lisboa, que se resumia na criação da linha circular pela construção das novas estações e tuneis da Estrela e Santos e na reformulação das estações do Cais-do-Sodré e do Campo Grande. Assim, esta linha circular percorrerá as estações do Campo Grande até ao Rato e Cais-do-Sodré seguindo no essencial o percurso da actual linha amarela e depois retomará o caminho para o Campo Grande pelo troço da actual linha verde. A futura linha amarela servirá para ligar apenas Odivelas a Telheiras, via Campo Grande. Note-se – isto é  importante – não existe mais nenhuma solução de percursos para o metro. Quem disser o contrário, mente.

Como disse antes, muito há a dizer contudo saliento que:

  1. As alterações que serão impostas ao maior filão de clientes do Metropolitano de Lisboa (19 milhões/ano: números do próprio Metropolitano), obrigarão a transbordos e consequentes perdas de tempo aos passageiros oriundos e com destino à zona a norte do Campo Grande (Lumiar, Odivelas, Loures, e restantes), em que comboios cheios de passageiros serão despejados para outros já com passageiros;
  2. Os riscos de derrapagem financeira, atendendo a já conhecida derrapagem temporal;
  • O sentido contrário dado por este processo ao desígnio nacional de descarbonização, pois tudo isto provocará o regresso de muitos passageiros aos seus veículos pessoais;
  1. A insegurança causada na colina da Lapa, onde os solos são instáveis e não suportam este tipo de intrusão no seu seio. Por tal, voltaremos a assistir a uma obra bem mais perigosa, dispendiosa e prolongada que a do Terreiro do Paço ou a do Cais-do-Sodré – algo consentâneo com o registado na peça transmitida pela TVI no passado dia 12/09/2019;
  2. Os 216 milhões de euros gastos numa obra inútil e nociva para os passageiros a que se juntam mais 50 milhões de euros para material circulante e mais 7 milhões de euros para expropriações, conforme consta do Despacho n.º 7188/2019, de 13 de Agosto, sendo que ao contrário do que se diz só 70 milhões de euros serão assegurados por fundos europeus e 203 milhões terão de ser assegurados pelo Orçamento do Estado, portanto por todos nós.

Por outro lado:

levaram o actual Governo a rever a sua posição, sendo que em resposta, vimos ser publicado o Despacho n.º 7188/2019, onde imagine-se, “se declara a utilidade pública, com carácter de urgência, da expropriação dos bens imóveis e direitos a eles inerentes, necessários à execução da obra do Projecto de Expansão do Metropolitano de Lisboa — Ligação das Linhas Verde e Amarela”.

 

Tudo isto, somente um mês depois, de na Assembleia da República, termos visto os partidos, os movimentos e os cidadãos dizerem a uma só voz que estão Contra o Fim da Linha Amarela e Contra a Linha Circular do Metro.

 

É um facto que todos os partidos que não o do Governo fizeram verter para o Relatório Parlamentar ao PNI 2030 (Plano Nacional de Investimentos 2021-2030) a rejeição da Linha Circular.

 

É também um facto que nos programas eleitorais do BE, da CDU, do CDS/PP e em manifestos do PPD/PSD foi reiterada a rejeição desta má solução.

 

Sobra o quê? A derradeira arma.

Todos e cada um, no dia 6 de Outubro, podemos colocar o PS nos carris com os votos mostrando que não aceitável que prejudiquem populações inteiras, ainda por cima com o dinheiro dos seus impostos..

Sim, é chegado o momento em que os cidadãos decidirão e terão de decidir se fará sentido escolher quem escolhe prejudicá-los.

Procurarei estar convosco daqui a uma semana, neste mesmo espaço. Até lá!

18/Setembro/2019