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Opinião Cruzeiro: 18 anos depois…

Escrito por em Setembro 11, 2019

 

Faz hoje precisamente 18 anos que 19 indivíduos sequestraram quatro aviões comerciais:

  1. 08:46 (hora local): 5 sequestradores fizeram colidir o avião do vôo 11 da American Airlines contra a Torre Norte do World Trade Center. Avião este que tinha descolado do Aeroporto de Boston às 07:59 com destino a Los Angeles e que contava com uma tripulação de 11 membros e outros 81 passageiros – Só neste avião pereceram 92 pessoas;
  2. Pouco mais de um quarto de hora depois, às 09:03, outros 5 sequestradores fizeram colidir o avião do vôo 175 da United Airlines contra a Torre Sul do World Trade Center. Este havia descolado igualmente do Aeroporto de Boston às 08:14 e dirigia-se a Los Angeles, com uma tripulação de 9 membros e 56 passageiros – Neste avião pereceram mais 65 pessoas;
  3. Cerca de meia hora após, pelas 09:37, outro grupo de 5 sequestradores terá feito colidir o avião do vôo 77 da American Airlines, contra o Pentágono. Este vôo partiu do Aeroporto Internacional Washington Dulles, na Virgínia, às 08:20 e também se dirigia a Los Angeles, com uma tripulação de 6 membros e 58 passageiros – Neste avião pereceram mais 64 pessoas;
  4. Uma hora depois do primeiro ataque, às 10:03, o avião do vôo 93 da United Airlines, que tinha partido do Aeroporto Internacional de Newark às 08:42 com destino a São Francisco, com uma tripulação de 7 membros e 37 passageiros, terá sido desviado por 4 sequestradores, que na sequência da reacção dos passageiros fizeram despenhar aquele avião junto a Shanksville, na Pensilvânia – Neste avião pereceram ainda mais 44 pessoas.

 

Impressionante será sempre tentar entender porque motivo 19 indivíduos se mobilizam para matar morrendo eles próprios também.

 

Estes ataques suicidas só terão paralelo pelo impacto gerado, com as acções suicidas dos pilotos japoneses, intitulados de kamikazes ou ‘vento divino’, que durante a II Guerra Mundial projectavam os seus aviões contra alvos inimigos.

 

Não podemos olhar para esta sequência de eventos sem verificar que só nos aviões foram dizimadas 265 vidas humanas, contudo no imediato aqueles atentados somaram um total de 2996 mortes. No imediato, porque ainda hoje surgem novas vítimas, pessoas que estiveram em contacto com as poeiras e materiais resultantes daqueles ataques.

 

Do ponto de vista da acção imediata verifica-se que aquele comando terrorista ao promover um atentado em solo americano fê-lo fustigando em larga escala uma enormidade de vidas humanas que ali pereceram.

 

Contudo, o terrorismo por definição não se alimenta das vítimas que causa directamente, mas sim do impacto gerado sobre as multidões de sobreviventes, que são submetidas ao medo e ao pânico e, assim, pela via dos efeitos psicológicos causados despertam-se as consciências para uma causa, ou para reacções primárias sempre associadas ao sentimento de perda de segurança.

 

O facto é que a transmissão em directo pelas televisões dos dois ataques às Torres Gémeas, potenciaram esse efeito, pois difundiram em tempo real e à escala planetária o que se estava a passar, transformando-se, ainda que inadvertidamente, em agentes de propagação do medo que ali se quis levar a casa de todos, e se conseguiu.

 

Não me motivam observações assentes em teorias conspirativas, contudo há coisas nestes eventos sobre as quais todos nós já teremos ponderado, sendo que realço a atribuição da responsabilidade destes atentados à Al-Qaeda pelo então Presidente americano, ainda os ataques estavam a decorrer. Também não esqueço que de imediato duas decisões surgiram como se tivessem previamente sido forjadas:

  1. O USA Patriot Act, mais tarde substituído pelo USA Freedom Act, são instrumentos legislativos que permitem aos órgãos de segurança e de inteligência dos EUA a intercepção de ligações telefónicas e de e-mails de organizações e pessoas alegadamente envolvidas com o terrorismo, bem como o controlo apertado da circulação de pessoas e bens no território dos EUA. Uma espécie de Simplex face aos Direitos Fundamentais, pois tudo isto passou a poder fazer-se sem quaisquer autorizações da Justiça e de forma arbitrária. Contudo, o medo gerado tudo isto consentiu;
  2. O imediato inicio da chamada “Guerra ao Terror”, desencadeada pelos Estados Unidos, numa dita “Cruzada contra o Terror” e contra o “Eixo do Mal”. Esta Guerra ao Terror tem maior visibilidade nas invasões e ocupações do Afeganistão e do Iraque, pelos Aliados dirigidos pela EUA.

 

Se uma acção terrorista tem um objectivo político e até militar, nunca ficou claro quais seriam os objectivos dos perpetradores, contudo há muito que vemos com clareza o petróleo iraquiano e as jazidas de minérios afegãs com novo dono.

 

Dezoito anos depois, milhares de vítimas chacinadas nos ataques e nos contra-ataques e milhões de afectados por tudo o que se seguiu, o que poderemos retirar de tudo o que se passou?

 

Será que a ganância nos puxa continuamente para as condições primárias de outrora?

Teremos evoluído mesmo assim tanto?

Merecemos mesmo este dom que é a inteligência?

Será o ser humano capaz de amar, de empatizar?

Será o ser humano capaz de ser razoável?

 

A questão estimados/as amigos/as é que somos capazes do exercício da bondade, do amor pelo próximo, mas pelos vistos ainda temos dificuldade em assumir que tais competências em nós residem.

 

Procurarei estar convosco daqui a uma semana, neste mesmo espaço. Até lá!

11/Setembro/2019