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Opinião Cruzeiro: Objecção de Consciência, Violência Doméstica e Europeias 2019

Escrito por em Maio 22, 2019

Nos últimos tempos temos assistido incrédulos e impotentes ao crescimento de diversas formas de violência entre pessoas. Vêem-se filhos a agredir e a maltratar pais. Pais, sacerdotes e outras figuras que queríamos que fossem exemplares a violar e a matar. Maridos a executarem as mulheres a quem fizeram juras de amor eternas e vice-versa. No final ainda vemos a benevolente acção da justiça sobre estes comportamentos e seus perpetradores. Em reacção clamamos por justiça, mas sinceramente não é isso que deveríamos fazer. Quando clamamos por Justiça já os problemas aconteceram e assim nunca mais resolveremos os efeitos deste flagelo.

 

Lamento dizer isto àqueles que incessantemente, dia-após-dia procuram encontrar soluções que mitiguem e até eliminem este fenómeno. Contudo, a questão das diversas formas de violência continua a ser olhada a jusante, depois de acontecer. Relatórios como os produzidos pela Equipa de Análise Retrospectiva dos Homicídios em contexto de Violência Doméstica, se levados a sério pelos decisores – algo que ainda não acontece – ajudam a identificar o que o sistema de protecção à vítima tem sido incapaz de evitar. Mas até aqui as correcções a formular, venham quando vierem, além do efeito dissuasor característico da aplicação de medidas correctivas e repressivas, por si só não debelarão esta praga que são os comportamentos violentos: a violência.

 

Muitos dirão, até socorrendo-se de putativos canudos da ciência, que os seres humanos são geneticamente violentos. Tal assim não é, pois há mesmo muitos de nós que não sendo extra-terrestres conseguem passar uma vida inteira sem agredir e sem violentar outros indivíduos.

 

Falta-nos mesmo dar espaço e permitir que se expanda uma cultura assente na Não-Violência e na Cidadania (Pró)Activa. Isso consegue-se, como se conseguiu com a chamada cultura ambiental, com educação, com Educação para a Paz!

 

É atribuído à educadora italiana do final do século XIX, Maria Montessori a seguinte frase:

«As pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer guerra. Quando educarmos para cooperarmos e sermos solidários uns com os outros, nesse dia estaremos a educar para a Paz.»

 

Objecção de Consciência, Violência Doméstica e Europeias 2019

Esta observação, ainda hoje é da maior pertinência e tem de ser colocada no centro da nossa agenda comum: construir a Paz da única maneira possível, construindo pacifistas. Quando tal suceder tenderemos a ser activos sem sermos agressivos, sem sermos violentos.

 

Para tal, pequenas, mas importantes coisas teremos de fazer. Temos de deixar de intoxicar os nossos filhos com brinquedos bélicos, jogos de guerra, filmes de acção, ditos desportos de defesa que só contribuem para a disputa e para a agressão. Devemos cuidar da linguagem, dos modos e de passar-lhes valores que muitos de nós recebemos, como o respeito pelo outro. Ao fim de contas importa cumprir a segunda parte do decálogo, i.e., deveremos ensinar os que nos sucedem a amar os outros. Pelo caminho, habituemo-nos a questionar com racionalidade aquilo com o que nos deparamos, sejamos assim objectores de consciência. Sejamos agentes de contraditório e de novas soluções. Sejamos capazes de ouvir, de sentir, de ponderar e de amar. Não despendamos o nosso escasso tempo de existência com futilidades que nos violentam, como confrontos bélicos, guerras e guerrinhas onde ricos engordam com o sangue dos restantes. Larguemos, pois, essas marchas contra canhões, deixemos de erguer hediondos estandartes ensanguentados como se algo de glorioso tal comportasse. Deixemos de sonhar com o rugido de ferozes soldados e com o extermínio de outros seres humanos, que são – seres humanos – como nós.

Larguemos, pois, esses uniformes que nos fazem ser soldadinhos de chumbo incapazes de decidir por si!

Passados poucos dias do Dia Internacional do Objector de Consciência (15/05/2019), considero que será tempo de estimularmos os nossos filhos e filhas a construírem os seus futuros do lado pacífico da História. Sim, mostremos aos nossos filhos e filhas as virtudes da objecção de consciência. Mesmo não sendo o serviço militar obrigatório, esta deve ser uma preocupação para que amanhã os nossos jovens não caiam na teia de um recrutamento forçado a que então não poderão dizer não, a menos que tenham obtido o Estatuto de Objector de Consciência.

 

Foi com tristeza que verifiquei que nos programas dos diversos partidos que se candidatam à Eleição do Parlamento Europeu, nem uma linha foi escrita sobre este desiderato: a Paz! A Paz desígnio e causa maior da construção europeia não se vislumbra como objectivo, como causa, nem como associada a alguma ideia que expressamente estimule a linha programática de qualquer uma das diferentes candidaturas.

 

Lamentável!

 

Pensem nisto, por alguns dos nossos actores políticos ou não terem sido educados a ouvir, ou por se terem esquecido de tal, hoje andamos às voltas com a questão da Linha Amarela. Se calhar valeria o investimento na Educação para a Paz, para assim evitar comportamentos de soberba.

 

Procurarei estar convosco daqui a uma semana, neste mesmo espaço.

Até lá!

22/Maio/2019