OPINIÃO/CRUZEIRO: “8 DE MARÇO – CELEBRAÇÃO DA UTOPIA”
Escrito por ARCO em Março 13, 2018
8 de março – Celebração da utopia
No passado dia 8 de março comemorou-se mais um Dia Internacional da Mulher. Essa data foi reconhecida pela ONU em 1975, após mais de um século de lutas feministas, cujo marco inicial foi a luta das operárias de Chicago, ainda no século XIX. Nesse combate por um horário de trabalho de 8h diárias e por melhores condições de trabalho, como em tantos outros combates feministas, muitas mulheres pagaram com a sua própria vida a reivindicação da igualdade de direitos com os homens.
A mulher vive, ainda hoje, uma condição de subalternidade em relação ao homem. Condição essa, que é bastante visível em questões muito objetivas,como a desigualdade salarial ou o trabalho doméstico, por exemplo. Para tarefas iguais, em Portugal, as mulheres recebem em média menos 20% do que os homens. Em atividades não pagas, as mulheres fazem mais 3h/dia de trabalho do que os homens, em média.
Apesar de representarem a maioria da população e há largos anos serem a maioria dos frequentadores do ensino superior, as mulheres permanecem em clara minoria nos lugares de topo das organizações da sociedade portuguesa. Este fechamento dos espaços de poder alimenta a ideia de que as mulheres são minoritárias e não têm capacidade de liderança.
A cultura machista perpetua-se simultaneamente através de formas de opressão mais subjetivas. Por exemplo, na perspetiva da sexualidade, uma mulher à qual sejam conhecidos vários parceiros é vista como promiscua, enquanto que um homem que relacione com muitas mulheres é valorizado entre pares e é olhado como um «garanhão» pela sociedade.
Sociedade essa que tem convivido tranquilamente com a violência exercida sobre as mulheres, seja ela simbólica, laboral, psicológica e/ou mesmo física. A violência de género é uma realidade que ainda mata dezenas de mulheres por ano, em Portugal, e destrói centenas de vidas. A violência doméstica é dos crimes que mais mata em Portugal e desestrutura vidas inteiras, deixando marcas inapagáveis nas mulheres que são vítimas dos seus carrascos e, em muitos casos, nos filhos e filhas que são forçados a viver também nesse inferno.
Em muitas circunstâncias às desigualdades de género somam-se outras desigualdades sociais, culturais, sexuais e étnico-raciais que tornam o cenário da vida no feminino num flagelo ainda maior.
Luís Miguel Santos