CATARINA EUFÉMIA FOI ASSASSINADA PELA GNR HÁ 55 ANOS
Escrito por ARCO em Maio 19, 2019
Em plena época da ceifa do trigo, Catarina e outras treze ceifeiras foram reclamar junto do feitor da propriedade onde trabalhavam um aumento de dois escudos por jorna. Os homens da ceifa terão sido contrários à constituição do grupo de mulheres, mas acabaram por não hostilizar a acção destas. As catorze mulheres foram suficientes para atemorizar o feitor que foi a Beja chamar o proprietário e a guarda. Catarina fora escolhida pelas suas colegas para apresentar as suas reivindicações. A uma pergunta do tenente da guarda, Catarina terá respondido que só queriam “trabalho e pão”. Como resposta teve uma bofetada que a tombou. Ao levantar-se terá dito: “Já agora mate-me.” O tenente da guarda disparou três balas. O menino de colo, que Catarina tinha nos braços ficou ferido na queda. Uma outra camponesa ficou ferida também.
Após a autópsia e temendo a reacção da população, as autoridades resolveram realizar o funeral às escondidas, antecipando-o de uma hora em relação àquela que tinham feito constar. Quando se preparavam para iniciar a sua saída às escondidas, o povo correu para o caixão com gritos de protesto, e as forças policiais reprimiram violentamente a população, espancando não só os familiares da falecida, outros rurais de Baleizão, como gente simples de Beja que pretendia associar-se ao funeral. O caixão acabou por ser levado à pressa, sob escolta da polícia, não para o cemitério de Baleizão, mas para Quintos, a terra do marido de Catarina. cantoneiro de profissão, a cerca de dez quilómetros de Baleizão. Só vinte anos depois, em 1974, os seus restos mortais foram finalmente trasladados para Baleizão.
Na sequência dos distúrbios do funeral, nove camponeses foram acusados de desrespeito à autoridade; a maioria destes foi condenada a dois anos de prisão com pena suspensa. O tenente Carrajola foi transferido para Aljustrel mas nunca veio a ser sequer julgado em tribunal e faleceu em 1964.
Nos tempos que correm, o exemplo de Catarina Eufémia continua a inspirar homens e mulheres que lutam, ainda, pelo fim da exploração, por uma sociedade mais justa e fraterna.
Catarina Eufêmia