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QUANDO O PREÇO A PAGAR PELO NOSSO MOSTEIRO DE ODIVELAS É SEMPRE BAIXO

Escrito por em Março 1, 2018

A decisão governamental de encerrar o Instituto de Odivelas foi infeliz. De um momento para o outro, desbaratou-se todo um capital de conhecimento, experiência e excelência pedagógica em troca… de coisa nenhuma.

Para Odivelas, também não foi bom. O nosso concelho perdeu, desta maneira inglória, uma das suas instituições mais conhecidas e das que mais longe e mais alto levou o nome de Odivelas.

A decisão foi taxativa e inexorável e cumprida em pouco tempo. Estas circunstâncias obrigaram a comunidade odivelense a olhar em frente, a temer pelo futuro do mais importante monumento nacional do nosso concelho e onde está sepultado D. Dinis, “apenas” um dos mais brilhantes monarcas da nossa História. (Já agora – e porque vem a talhe de foice – fiquem a saber mais uma deliciosa historietas do mosteiro, entre tantas: foi no mosteiro de São Dinis e São Bernardo, que é como na realidade se chama, que morreu a rainha D. Filipa de Lencastre, esposa de outro brilhante monarca – D. João I – e mãe da Ínclita Geração, como lhe chamou Camões).

Após o encerramento do Instituto não faltaram propostas e ideias sobre o que fazer ao mosteiro face à previsível passagem do edifício para as mãos do município. Umas com mais mérito que outras (no meu modesto julgamento) e até eu sussurrei deste canto que me disponibilizam na Rádio Cruzeiro, a ideia de um centro de interpretação da vida quotidiana na Idade Média que julgo, poderia ser um verdadeiro sucesso de afluência e que traria imensa gente ao nosso concelho.

Muito entusiasmo, muita vontade e muita ansiedade.

Porém, a realidade administrativa caiu esmagadoramente sobre os Odivelenses e todos os projetos apresentados e aconteceu aquilo que nunca podia ter acontecido – o edifício foi literalmente abandonado pelas entidades que o tutelam, caiu numa decadência que já é notícia nacional e que obriga a um esforço de investimento muito maior para poder tornar o edifício utilizável, agora que foi finalmente cedido à Câmara Municipal de Odivelas.

Há mais coisas que escapam à minha compreensão – como é que uma entidade estatal que tem a seu cargo um monumento nacional, um património que é de todos nós, deixa-o ao abandono e à total degradação? O facto de não usar o edifício não livra a entidade que o tutela das responsabilidade e obrigação de zelar pelo seu bom estado de conservação. Como é que ninguém é chamado à responsabilidade?

Também há quem diga que a Câmara Municipal vai pagar valores excessivos pelo acordo de cedência recentemente firmado. Talvez. Porém, a isso contraponho – e qual seria a alternativa? O total abandono? Vender a privados um túmulo real para instalar no Mosteiro sabe-se lá o quê?

Todas as outras opções que não passassem pela cedência onerosa à Câmara Municipal de Odivelas implicariam o pagamento de um preço muito mais alto do que o que foi acertado com o Estado português. Este preço não seria necessariamente medido em montantes monetários. Bem pelo contrário pagar-se-ia com um avassalador peso na nossa consciência por não termos defendido em devido tempo as marcas mais fortes da nossa memória coletiva.

É que – como já alguém antes de mim disse – um Povo sem memória é um Povo sem futuro.

Até para a semana. Desfrutem de Odivelas (com o Mosteiro nas nossas mãos)!

Fernando Sousa Silva
Sociólogo