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PORTUGAL A UNIÃO EUROPEIA E O “EIXO DO MAL”

Escrito por em Junho 2, 2020

 

OPINIÃO
PORTUGAL A UNIÃO EUROPEIA E O “EIXO DO MAL”
Por Augusto Costa

 

No programa do Eixo do Mal da última quinta-feira (28 de Maio) a opinião consensual dos interveniente foi a de que se Portugal não pertencesse à União Europeia não se conseguiria salvar da crise económica que aí vem por motivo do Covid-19. Consenso polémico e duvidoso na minha opinião! Permito-me, assim, rebater rapidamente a opinião, ou pelo menos colocá-la em dúvida, com base em números e no que se sabe da História económica comparada.

Os quadros estatísticos de longo prazo (1850-2020) apresentados parecem provar não só que Portugal viveu e prosperou sem a Integração Europeia, como a Moeda Única (Euro) veio colocar desafios para os quais o país não se encontrava preparado o que implicou a maior desgraça económica nacional desde o conturbado período da 1ª República.

As fontes estatísticas utilizadas foram:

· Eugénia Mata e Nuno Valério (info Portugal) até 1968 e daí em diante a informação estatística oficial portuguesa ou a do FMI (World Economic Outlook – WEO).

· Para as comparações internacionais as inevitáveis bases de dados de A. Maddison (info até 2000) e FMI-WEO(2001-2020)

Este longo período de 170 anos (1850-2020) foi subdividido em sub-períodos que se caracterizam por terem um mesmo sistema político-económico homogéneo que os caracterizou. Por outro lado, o ano de 2020 foi incorporado na análise nos pressupostos das previsões económicas antes do COVID19, que tudo veio alterar.

Foram assim considerados os seguintes períodos:

· 1850-1910 – Monarquia (60 anos)

· 1910-1926 – 1ª República (16 anos)

· 1926-1968 – Ditadura Militar e Estado Novo – Salazar (42 anos)

· 1968-1973 – Estado Novo – Marcello Caetano (5 anos)

· 1973-1985 – Revolução – 2ª República (12 anos)

· 1985-2000 – 2ª República – Integração Europeia CEE (15 anos)

· 2000-2020 – 2ª República – União Monetária – Euro (20 anos)

Os países escolhidos para a comparação com Portugal foram:

· Um país fundador da União Europeia (EU) – Alemanha (Germany) e que faz parte do Euro.

· Dois países que entraram posteriormente na UE (UK – Reino Unido e Suécia) mas nunca fizeram parte do Euro.

· Três pequenos países europeus que nunca fizeram parte da EU – Noruega, Islândia e Suíça.

· Os EUA (USA) inevitavelmente para comparações.

QUADRO 1. Taxa de crescimento médio anual (tcma) do PIB real/capita

  • Os períodos de convergência de Portugal com a Europa (ou com estes países escolhidos) foram os períodos do Estado Novo (1926-1973) e da 1ª fase da UE (1985-2000).
  • No pequeno período do Marcelismo (1968/73) Portugal apresenta uma taxa de crescimento do PIB per capita superior a 8% ao ano. Marcello Caetano no exílio terá dito que se lhe tivessem dado mais uma dúzia de anos, teria transformado Portugal numa nova Suíça.
  • A 1ª República foi a desgraça e o caos económico que se conhece e que querendo resolver a má prestação da Monarquia conseguiu a proeza de ter feito pior!
  • Foi nos períodos da Monarquia e da 1ª República onde se deu a divergência com a Europa. Crescemos menos e afastámo-nos do desenvolvimento industrial Europeu.
  • Contudo, em 1973-1985 e nos últimos 20 anos (2000-2020)* isso voltou a acontecer! A Divergência.

*O Euro e as taxas de juro muito baixas (que depois até se tornaram negativas) fomentaram o consumo e o crédito fácil,  desincentivaram a produção e a poupança e incentivaram a contratação crescente de dívida externa (pública e privada). Estes factos, conjugados com factores internos muito específicos lançaram a economia portuguesa numa das maiores crises de que há memória, quando toda a gente percebeu que afinal não existia uma verdadeira mutualização da Dívida desta Zona monetária.

Em termos de valores absolutos do PIB/capita em levando em conta os preços relativos de cada país (PPC – paridades de poder de compra) temos a situação evolutiva apresentada no quadro que segue:

QUADRO 2PIB/capita em PPC – USD de 2020

  • A grande conclusão é a de que países pequenos como a Suíça e a Noruega não deixaram de se desenvolver nem ser dos mais ricos do Continente Europeu por não pertencerem à União Europeia. Pode-se dizer que esses países já eram ricos antes da UE se ter constituído.
  • Mas o que a Islândia vem provar é que mesmo estando abaixo da Alemanha em 1968, em termos de desenvolvimento, este pequeno país tem hoje um nível de vida superior ao alemão e sueco e não precisou da UE nem dos seus subsídios para isso! E isto depois de ter tido uma implosão do seu sistema financeiro em 2008 como é sabido.

O quadro seguinte mostra-nos o quão afastado Portugal se encontrava dos países que serviram de comparação tendo em conta a época histórica (ano) e o país em questão. Um valor de 100% significaria que Portugal teria um nível de desenvolvimento igual ao do país considerado.

QUADRO 3. PIB/capita português em % do país Y (em coluna) no ano X (em linha) em PP

  • Estivemos sempre aquém de qualquer dos países apresentados em qualquer época histórica apresentada.
  • A evolução das percentagens reflecte o que já foi analisado no Quadro 1. Valores em decrescimento na coluna significam o nosso progressivo afastamento do país em causa; valores crescentes uma aproximação do nível de vida dos países que serviram de comparação.

Agora um exercício simples que se propõe é o seguinte: UM SE…

E se o 25 de Abril tivesse corrido de outro modo (ou não tivesse existido de todo e a transição democrática se tivesse passado de outro modo, como em Espanha)? De um modo que não tivesse desarticulado a débil estrutura económica de um país que estava a dar os primeiros passos no verdadeiro desenvolvimento económico. Para esse caso apresentamos as seguintes três hipóteses de desenvolvimento, todas elas bastante conservadoras face ao histórico verificado em 1968/73.

  • Hipótese 1 – cenário baixo;
  • Hipótese 2 – cenário médio;
  • Hipótese 3 – cenário alto

QUADRO 4. Taxa de crescimento médio anual do PIB/capita português em 3 Hipóteses … … Ano base 1973

Saliente-se que nas hipóteses acima não foram mantidas as taxas de 8% ao ano que se verificaram no período 1968-1973 pois a própria conjuntura internacional também mudou com as crises do petróleo de 1973/74 e de 1979/80. Mesmo assim com as tímidas taxas de crescimento apresentadas os resultado em termos de PIB/capita PPC seriam os seguintes:

QUADRO 5. PIB/capita português em 3 Hipóteses … Ano base 1973

Paridades de poder de compra (PPC) USD de 2020

Portugal seria, com toda a probabilidade, uma nova Suíça não certamente na dúzia de anos profetizada por Marcello Caetano após 1974 mas nas primeiras décadas do séc. XXI. Basta comparar com o Quadro 2 acima. Não o somos. A pergunta que fica é:

O que é que a Moeda Única e a primeira fase da 2ª República fizeram a Portugal que nos mantém nesta “apagada e vil tristeza” de estagnação económica e a depender de outros para sobreviver?

É a esta pergunta que estudos aprofundados sobre a Economia e a Política portuguesa das últimas décadas irão dar resposta.