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OPINIÃO/CRUZEIRO: TRANSPORTESINHOS

Escrito por em Julho 31, 2018

Transportesinhos

Em meados de 2017, o Metropolitano divulgou o Plano Operacional da empresa que, no essencial, previa a criação de uma linha circular em Lisboa e o fim da ligação direta entre Odivelas e o centro da cidade. Com a construção das estações da Estrela e Santos, ligando-as à linha verde no Cais do Sodré e com a integração das estações do Campo Grande ao Rato irá nascer a futura linha verde circular. Já a linha amarela, segundo o plano, funcionará entre Odivelas e Telheiras.

Esse plano, reconfirmado pelo presidente do Conselho de Administração do Metro, em março deste ano, na Assembleia da República, gerou uma indignação generalizada na população de Odivelas e de outras áreas periféricas do norte do distrito de Lisboa. Milhares de pessoas subscreveram petições e os partidos políticos uniram-se nos órgãos autárquicos do concelho em oposição a esse plano operacional e em defesa da manutenção das atuais ligações entre Odivelas e o centro de Lisboa.

Muitas dessas pessoas, entre as quais me incluo, e forças políticas lembraram a necessidade de concretizar o projeto de alargamento da rede de metro ou de transporte ferroviário para norte de Odivelas, conforme prometido em 2009. Esse alargamento, para lá de captar mais utilizadores para o transporte público, iria promover uma redução significativa da pressão automóvel na cidade de Odivelas, particularmente junto às estações de Odivelas e do Senhor Roubado.

Entretanto, o presidente da Câmara Municipal de Odivelas anunciou que o Ministro do Ambiente, que tutela o Metropolitano de Lisboa, confirmou a manutenção da ligação direta entre Odivelas e Lisboa, através da integração da linha amarela na futura linha circular. Já na última sessão da Assembleia Municipal de Odivelas (19/7), Hugo Martins reforçou a garantia do governante lendo uma carta que João Pedro Matos Fernandes lhe havia enviado, na sequência do de dúvidas surgidas aquando da discussão pública do estudo de impacto ambiental.

Nessa missiva que ainda não foi distribuída aos representantes da população de Odivelas, o ministro assegurou a integração da linha amarela na linha verde circular no interface do Campo Grande. No entanto, essa garantia parece limitada quando se lê que “particularmente nas horas de ponta da manhã e final da tarde, essa ligação direta continuará a suceder quando a linha circular entrar em operação ficando até aberta a possibilidade de com o tempo se produzirem os ajustes necessários de acordo com a capacidade da operação e dos hábitos dos utentes do metro.” A manutenção da ligação de Telheiras à linha verde também é referida de forma condicionada.

A carta do Ministro do Ambiente é clara na incerteza sobre a manutenção da ligação direta entre Odivelas e o centro da cidade de Lisboa. A existência da ligação entre a linha amarela e a linha verde não é garantia de todos os comboios façam esse percurso, mesmo nos períodos de ponta. Ou seja, da leitura da carta do ministro pode concluir-se que apenas em horário de ponta os comboios oriundos de Odivelas poderão entrar na futura linha circular.

Tendo em consideração que, hoje em dia, no período fora da hora de ponta, os comboios da linha amarela circulam alternadamente entre Odivelas e Rato e entre Campo Grande e Rato. Ou seja, se já agora, fora do período de ponta o intervalo entre comboios que vêm até Odivelas é exageradamente grande, o anúncio feito pelo presidente da CMO deixa-nos apenas a certeza de que a ligação direta entre Odivelas e o centro de Lisboa irá perder ainda mais qualidade e conforto.

As pessoas que vivem, trabalham e estudam no nosso concelho não se deslocam apenas nas horas de ponta ou onze meses por ano. É fora desses períodos que a distância da periferia ao centro faz-se notar com maior intensidade, prejudicando particularmente as pessoas que têm menos rendimentos e que só têm como solução de mobilidade os transportes públicos.

A falta de respeito por quem usa transportes públicos todo o ano está bem patente nos miseráveis horários de verão da Rodoviária de Lisboa. Se o horário não escolar implementado pela empresa que gere os transportes públicos no concelho já é uma complicação para as populações, a redução do número de carreiras a circular para cerca de metade ou menos, nalguns casos, é inaceitável e bastante esclarecedora sobre a forma como é encarado o serviço público por parte de uma entidade privada.

O lucro e a rentabilidade operacional não podem ser a principal preocupação de um serviço público de transportes de passageiros. A mobilidade é um direito que tem que ser garantido a todas as pessoas, uma vez que é, também, uma forma privilegiada de combater a exclusão. Por tudo isto, será fundamental as populações não deixarem de reivindicar mais e melhores transportes e acompanharem de perto o processo de revisão das concessões que irá decorrer nos próximos meses, no sentido de forçar a criação de respostas que sirvam as suas necessidades de deslocação.

Luís Miguel Santos

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