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OPINIÃO CRUZEIRO: O PROVINCIANISMO DA CIDADE EUROPEIA DO DESPORTO.

Escrito por em Junho 19, 2018

O Provincianismo da Cidade Europeia do Desporto.

Na semana passada foi conhecida a candidatura de Odivelas a Cidade Europeia do Desporto para o ano de 2020. A candidatura amplamente divulgada pretende mostrar um concelho virado para a promoção da atividade física generalizada e em boas condições infraestruturais.

A perspetiva de Odivelas como concelho virado para o desporto assumiu uma nova centralidade nos discursos dos responsáveis autárquicos desde a construção do Pavilhão Multiusos. Nessa altura, o vereador Paulo César Teixeira disse mesmo que o objetivo do município era “fazer do Multiusos num mini-Pavilhão Atlântico”. Desde então, o megaempreendimento situado junto às Colinas do Cruzeiro passou a ser o centro da política desportiva do concelho, essencialmente virada para eventos que tenham grande visibilidade mediática.

Nesse sentido, eventos internacionais têm vindo a decorrer com grande frequência num equipamento municipal que durante anos esteve parcialmente entregue a um clube de fora do nosso território e em condições económicas desvantajosas para a autarquia, tendo por comparação as taxas municipais aplicáveis ao pavilhão.

A política desportiva da Câmara Municipal de Odivelas tem vindo a ser direcionada para lógica mediática e não para a realidade concreta do concelho. As dificuldades de funcionamento de várias instituições do concelho,bem como a nível do desporto escolar, não têm encontrado na autarquia e nos seus programas de apoio a resposta adequada à sua realidade e às necessidades da população. O Odivelas Futebol Clube é apenas o exemplo mais gritante de uma realidade que não deixa de atingir praticamente nenhuma instituição.

Por falar em Odivelas Futebol Clube e em Pavilhão Multiusos, o futuro do complexo do Porto Pinheiro é apenas mais um bom exemplo da falta de tino da política desportiva no concelho. Não sendo este o espaço para discutir a extinção do OFC, a entrega dos terrenos que haviam sido cedidos a um dos clubes mais emblemáticos do concelho a uma entidade exterior ao concelho, como o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol foi uma opção incompreensível e que, uma vez mais, tornou evidente que a política desportiva do município não coloca em primeiro lugar as pessoas e as instituições que aqui sempre viveram e trabalharam.

No concelho que se candidata a ser Cidade Europeia do Desporto, o abandono a que algumas infraestruturas desportivas estão vetadas é absolutamente inaceitável. A degradação do Polidesportivo Honório Francisco, o abandono dos campos de ténis do Pomarinho ou um minúsculo skatepark, que há anos tentaram destruir são alguns exemplos do modo de gerir equipamentos desportivo pela autarquia. Essa política tem deixado as freguesias e as populações sem equipamentos onde se possa praticar desporto de forma saudável, segura e gratuita.

Entretanto, junto ao Pavilhão Multiusos, parques de estacionamento dão lugar a equipamentos desportivos que vão sendo batizados, inaugurados e encerrados para manutenção sucessivamente. Nos últimos meses assistimos também ao asfaltamento de passeios por forma a poder dizer-se que existem vários quilómetros de via ciclável no concelho. Também neste último caso, a pista foi construída essencialmente na lógica de apoio à realização de eventos de uma entidade exterior ao concelho, como o Correr Lisboa. A via é tão pouco ciclável que se duas bicicletas em sentido contrário tentarem passar uma pela outra, certamente, alguma delas terá de ir para o que resta do passeio ou para a estrada. Sem imaginar como será para a partilhar com peões…

Num município em que há uma carência de infraestruturas desportivas que respondam às necessidades dos clubes federados ou das populações, individualmente consideradas, a candidatura à Cidade Europeia do Desporto revela um enorme desajuste entre as políticas públicas e as necessidades concretas das pessoas. Acima de tudo, fica evidente um provincianismo que nenhuma infraestrutura de última geração ou qualquer operação mediática conseguem esconder.

Luís Miguel Santos

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