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OPINIÃO/CRUZEIRO: DIA MUNDIAL DO TEATRO E A NOSSA MALAPOSTA

Escrito por em Março 28, 2018

Dia Mundial do Teatro e a nossa Malaposta

Esta terça-feira, dia 27 de março, assinalou-se o Dia Mundial do Teatro. Celebrar esse dia é festejar a criatividade, divulgar a diferença e construir identidade. Nesta data, lembro todos e todas as que fizeram e fazem do teatro uma das formas de expressão cultural mais significativas e emancipadoras.

Quem assiste a uma peça de teatro apenas tem a oportunidade de ver em ação as e os atores. Mas o teatro tem muito mais! Nos bastidores há profissionais indispensáveis para boa apresentação de qualquer espetáculo que vai a cena. Ainda antes da construção física de uma peça, há que destacar o papel de quem escreve e permite aos restantes intervenientes expressarem toda a sua criatividade.

Todas as pessoas que trabalham nas artes e, também, no teatro muitas vezes não veem os seus direitos laborais assegurados. Em Portugal, nos últimos eventos públicos de celebração das artes e da produção cultural, muitas e muitos premiados têm manifestado o seu descontentamento com a falta de apoios públicos à cultura.

As atividades culturais não são sempre rentáveis do ponto de vista financeiro, sem que isso tenha de significar uma condenação à inexistência ou à irrelevância. A produção cultural apresentada ao público gera valor que está para alem da rentabilidade capitalista. Os espetáculos culturais são, individual e coletivamente, uma forma de criação e desenvolvimento do gosto, promoção do espirito critico e de conhecimento e criação de identidades diversas.

Para que o teatro possa cumprir essa missão de serviço público é necessário que os titulares de cargos públicos assumam as suas responsabilidades. O orçamento do regressado Ministério da Cultura ainda está longe do tão desejado 1% do PIB. Os apoios à produção cultural que existem são manifestamente insuficientes, quer a nível nacional ou no âmbito local.

Em Odivelas, o executivo municipal deu inicio ao processo de privatização da gestão do Centro Cultural da Malaposta, acerca de dois anos. A Malaposta é um dos espaços culturais de referência das últimas décadas, na área metropolitana de Lisboa. O centro cultural foi uma criação intermunicipal e serviu de casa a inúmeras produções e apresentações artísticas.

Desde a criação do concelho de Odivelas, a gestão da Malaposta esteve sempre sob o controlo do município. Com a extinção da empresa municipal Municipália, o executivo desenvolveu um processo para a entrega da gestão do centro cultural a privados. No caderno de encargos, que define os pressupostos para a privatização, existem estimativas irrealistas de afluência de público, por forma a assegurar a sustentabilidade da Malaposta, com níveis de oferta cultural aceitáveis. O centro cultural teria que ter uma frequência de público equivalente ao Teatro Nacional Dona Maria para cumprir tais resultados de bilheteira.

Num concelho em que existe tanto património ao abandono e vedado à população e onde há um auditório (na Póvoa de Santo Adrião) fechado por falta de investimento em soluções de segurança, a entrega do equipamento cultural mais dinâmico de Odivelas a privados é uma opção que não surpreende, mas reforça a condição periférica do município.

Até agora, por motivos vários, o resultado do concurso público ainda não se traduziu na prática. Ou seja, há margem para travar a entrega da Malaposta à gestão privada. Basta que a maioria do Partido Socialista na Câmara e na Assembleia Municipal adotem medidas que viabilizem uma gestão eficaz e direta do equipamento por parte dos serviços do município. Às populações compete manter a exigência de um serviço público de cultura que promova a criação, a produção e a oferta cultural diversificada e de qualidade para todos os públicos e recusar o fechamento cultural e o favorecimento de interesses privados.

Luís Miguel Santos

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