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Opinião Cruzeiro: Democracia – Quo Vadis

Escrito por em Abril 3, 2019

A afirmação “O Povo é Soberano” tem sido vista como uma tradução simples do que é a Democracia. Esta expressão resultou da transferência do poder real para o povo que na práctica elege alguns dos seus para o representar e assim assumir a tarefa de administração da coisa pública. Este direito recebeu um forte impulso quer da Revolução Francesa, quer das chamadas Revoluções Agrícolas, Industriais e Demográficas ocorridas entre o século XVIII e XIX.

 

É por muitos recordada a ridicularização a que foi sujeito o Eng.º António Guterres, quando surgiu com a sua visão estratégica assente na “Paixão pela Educação”.

 

Ora, se é verdade que um povo ou tão simplesmente um indivíduo é tanto mais livre quanto mais capaz fôr em termos económicos, também não é menos verdadeiro considerar que as melhores decisões são tomadas com o maior leque de competências possível.

 

Ao longo da História, em particular desde o século XX, temos assistido ao capitular da Democracia precisamente por ausência de cultura democrática. A cultura democrática apreendida em eficaz processo de educação cívica tem de garantir aos seus detentores a capacidade de analisar, de verificar, de propor e de objectar aquilo que lhes é proposto no domínio político.

 

Todavia, a loucura dos homens e os padrões de sucesso a que se têm vindo sujeitar reduz a existência humana à mera conquista de bens materiais, de capital, enfim de dinheiro. Convencionou-se que o sucesso é directamente proporcional ao tamanho da conta bancária ou da carteira. Em algumas sociedades, alimentadas por dogmas como o Capitalismo, tal foi levado ao extremo e ao invés da valorização do Homem, assiste-se à valorização das suas conquistas financeiras. Nessa medida, a educação é colocada num plano em que se torna inalcançável por aqueles que ao nascer ainda não tenham acedido ao tal sucesso capitalista.

 

É neste quadro que de forma perigosa muitas sociedades se têm vindo a firmar. Assim, assistimos e participamos activamente na afirmação de uma cultura de embrutecimento alimentada por rápidas trajectórias de ascensão mediática, como acontece através de programas que se reduzem a meros exercícios de prostituição mediaticamente assistida embalados por trovas de matriz pimba e refinadas pelo regresso aos coliseus romanos ora transformados em arenas de desporto alienante, sendo-nos ainda servido como repasto de final de dia os ditos de fazedores de opinião, que como iluminados servem o propósito de nos manter adormecidos indicando-nos o caminho. E nós aceitamos.

 

É um facto que temos vindo a aceitar uma escola assente em modelos que visam a formação de obedientes operários, e cujo propósito maior parece ser o preenchimento de relatórios e estatísticas de que os sistemas educativos se alimentam, ao invés de se repensarem os currículos numa perspectiva de investimento numa cultura de conhecimento e de pensamento objector, volvida à Paz e à Cidadania activa. E tal é feito de propósito, pois quem não conhece, não põe em causa e assim facilmente obedece.

 

  • Que bom é ter tantos braços disponíveis que não questionam e até consideram necessário e edificante atacar militarmente ou espoliar por impostos outros seres humanos só porque meia dúzia quer aceder aos recursos destes.

 

  • Que bom é eleger aqueles que com cantos de sereia nos acossam os sentidos mais elementares (medo, ganância,…) que não controlamos porque simplesmente desconhecemos.

 

  • Que bom é poder retroceder em matéria de direitos fundamentais com o apoio daqueles que mais têm a perder com isso.

 

  • Que bom é andar a despedir pessoas, deslocalizar empresas e portanto fontes de rendimentos de quem trabalha e depois conseguir que esses ainda elejam este tipo de déspotas.

 

  • Que bom é voltar a construir muros para supostamente proteger os povos dos efeitos nefastos de uma globalização que tem engordado aqueles que agora reclamam pelos muros.

 

Tudo isto fará sentido?

 

A História deveria ser capaz de nos dar luzes para evitarmos erros passados, mas para tal é preciso conhecê-la de forma crítica, para que a pobreza de espírito não transforme a democracia naquilo que ela não é.

 

A obcecante procura dos povos ditos democráticos por lideranças carismáticas que naturalmente os conduzem ao totalitarismo é em si mesmo uma contradição.

 

Prefiro uma governação fragmentada por partilha de poder e responsabilidades do que o conforto dos silêncios impostos por um só indivíduo. Mas para que se percebam as virtudes da Democracia e dar-lhe valor importa conhecer, saber, deter educação, enfim, combater a ignorância.

 

Nitidamente uma sociedade que apostou as fichas todas no sucesso material em detrimento do conhecimento crítico, como aconteceu nos Estados Unidos, só poderia eleger um demagogo, um misógino, racista, ausente de ideias, mal-educado e mal formado. A América é hoje vítima das suas escolhas estruturais, pelo que importa saber se quem olha para aquela grande Nação, como referencial a imitar, estará capaz de desejar para Portugal e para o resto do mundo tão triste desfecho? Facto é que a parvoíce que é sempre tão fecunda rapidamente se propaga e vimos tal suceder de imediato noutros quadrantes onde homens rudes, déspotas, sem qualquer valor foram elevados à condição de salvadores, por aqueles que serão as suas próximas vítimas.

 

Neste que é um ano de eleições, numa nação das mais antigas, com quase 9 séculos de existência, impõe-se que os portugueses honrem mesmo os seus egrégios avós e ponderem, meditem, procurem informação racional sobre as escolhas que vão fazer para assim evitarem o lamento opressivo.

 

Estimad@s leitores, como é sabido, poderão encontrar esta e outras reflexões no site da Rádio Cruzeiro.

 

Procurarei estar convosco daqui a uma semana, para mais uma reflexão, neste mesmo espaço. Até lá!

03/Abril/2019

Som: Opinião Cruzeiro: Democracia – Quo Vadis (03/04/2019)