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OPINIÃO/CRUZEIRO: A CONCERTAÇÃO SOCIAL “SÚCIALIZANTE”

Escrito por em Março 24, 2018

A CONCERTAÇÃO PATRONAL “SÚCIALIZANTE”

Este é um dos temas que, neste Portugal que todos dizem democrático e pluralista, com um Presidente da República bruta e selectivamente afectuoso e um governo dito socialista (vá lá perceber-se porquê), define bem quem é quem no emaranhado labirinto em que se perdem as proclamadas boas intenções daqueles que sempre vogam ao sabor das marés, sejam elas vazas ou cheias, tudo dependendo da época em que se manifestam.

Estou a referir-me, obviamente, ao grande “calcanhar de Aquiles” que invariavelmente atormenta quem pretende ser, ou ao menos aparentar, aquilo que realmente não é nem nunca foi.

As relações de trabalho e os códigos que os regulamentam, são um bom teste para aferir da qualidade de quem legisla ou tem voto na matéria.

Um certo pai da democracia portuguesa, já falecido, acordou um dia com um gravíssimo problema existencial e disso deu conta publicamente: – Afinal, o que é hoje (naquela altura) ser de esquerda ou de direita? – Interrogava ele.

Esta dramática dúvida acabaria por dar origem a grandes debates de ideias nos grandes órgãos de “comunicação” pelos teóricos do costume, prévia e devidamente selecionados pelos seus donos.

Um destes “debates” realizou-se na Casa do Artista, na Pontinha, acoitado pelo celebéééérrimo e desacreditado programa da RTP alcunhado de Prós e Contras.

O tema do debate versava exactamente “a Esquerda e a Direita”.

Que raio de coisas vêm a ser essas sobre as quais o próprio “pai da democracia” tem tantas dúvidas?

Convidados para o dito, o confuso papá acompanhado de representantes de várias correntes políticas, com uma única excepção: – A força da esquerda mais (ou única?) consequente, com provas dadas de muitas décadas de luta em defesa do seu projecto de sociedade (de esquerda, pois claro!).

Lembro-me bem disto porque participei no protesto que se realizou à porta das instalações onde aquela vergonha se desenrolou.

Bom, mas vamos então à vaca antes que esta esfrie.

Na passada semana, foram de novo a discussão e votação na Assembleia da República propostas apresentadas pelo Partido Comunista Português que visavam a reposição de alguns direitos que os trabalhadores foram perdendo ao longo dos anos, fruto das políticas protagonizadas por governos do PS, PSD e CDS que, juntos ou em separado, lá foram cozinhando Códigos de Trabalho ao sabor dos interesses do grande patronato.

Claro que já se sabia que PSD e CDS votariam contra, ou não estivessem eles do outro lado da barricada, sempre e sempre ao lado dos poderosos exploradores do trabalho alheio.

O Bloco de Esquerda, bom, talvez o vento estivesse de feição, mas nunca fiando.

E o PS? Seria que, desta vez e atendendo à nova situação política aberta por iniciativa do PCP, que o colocou no poder tendo como objectivo prioritário varrer a direita pura e dura do comando, retrocedendo assim o caminho para o desastre que o país seguia, havia enfim percebido o que significa realmente ser-se de esquerda em qualquer ponto do globo?

A resposta a esta questão não podia ser mais clara. Rejeição, também pelo PS, da inversão das malfeitorias impostas aos trabalhadores ao longo de muitos anos.

E com que argumentos? Exactamente os mesmos, velhos e bolorentos, utilizados por PSD e CDS.

– “Estas questões devem ser dirimidas e aprovadas no âmbito da Concertação Social” – proclamaram eles em coro.

E eu traduzo esta proclamação: – O grande patronato é quem decide o que fazer e como fazer para continuar a explorar a força do trabalho.

Estão confusos? Eu explico.

Na Concertação Social têm assento o Governo, a CIP (Confederação da Indústria Portuguesa), a CAP (Confederação dos <grandes> Agricultores de Portugal), a CTP (Confederação do Turismo Português), a UGT (“União Geral de Trabalhadores”) e, finalmente bem separada para evitar contágios, a CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional).

Temos assim que, para decidir das questões laborais mais importantes, temos três representantes do grande patronato e um seu apêndice muito mal disfarçado (UGT), e uma organização verdadeiramente representativa dos trabalhadores portugueses (CGTP).

Resultado do jogo? Goleada de 4 – 1, as contas até são fáceis de fazer…

O árbitro (governo), escudando-se cobardemente no resultado deste jogo viciado, limita-se a validá-lo e a mandar publicá-lo. Para os devidos efeitos e a bem da nação.

E assim vamos andando… Até um dia!

Um bom fim-de-semana para todos.

Adventino Amaro

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