MORREU EDUARDO LOURENÇO O MAIOR PENSADOR PORTUGUÊS DA ATUALIDADE
Escrito por Paulo António Monteiro em Dezembro 1, 2020
Morreu esta terça-feira em Lisboa, com 97 anos, o Conselheiro de Estado, Eduardo Lourenço. Foi um dos pensadores mais importantes da cultura portuguesa nas últimas décadas. Nasceu a 23 de Maio de 1923 em Almeida, na Beira Alta.
Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta e interventor cívico, foi várias vezes distinguido.
Apaixonado pela literatura, referia-se aos livros como “filhos” e dizia que “estar-se sem livros é já ter morrido”. Mas foi sobretudo sobre a poesia, mais do que a prosa, que incidiram os seus ensaios, de Luís de Camões a Miguel Torga, passando por Fernando Pessoa.
Nunca se deixou encaixar numa escola de pensamento especifica.
Em 1949 partiu para França, a convite do reitor da Faculdade de Letras da Universidade de Bordéus, com uma bolsa de estágio da Fundação Fulbright.
Iniciou uma carreira académica em 1953, tendo lecionado em diversas universidades europeias e americanas, tais com as de Hamburgo e Heidelberg, a Alemanha, Montpellier, Grenoble e Nice, em França, e na da Baía, no Brasil, entre outras.
Casou-se com Annie Salamon, em Dinard, em 1954, e, passou a viver em França a partir de 1960. Cinco anos mais tarde, em 1965, fixou residência em Vence, na região dos Alpes Marítimos, no sudeste francês, mas manteve sempre a ligação ao país de origem.
O tema da Europa, e do lugar de Portugal na Europa, é recorrente na obra do autor
Marcelo Rebelo de Sousa lamenta morte de “amigo” e “sábio”
O Presidente da República lamentou a morte de Eduardo Lourenço e agradeceu a este “sábio” e “amigo”, disse que se tratou de uma “coincidência simbólica” que o “maior pensador sobre Portugal vivo nos tenha deixado no dia da Restauração da Independência”.
“Eduardo Lourenço foi, desde o início da segunda metade do século passado, o nosso mais importante ensaísta e crítico, o nosso mais destacado intelectual público”, acrescentou o Presidente.
António Costa declarou dia de luto nacional
O primeiro-ministro, António Costa, lamentou a morte de Eduardo Lourenço, recordando um amigo e camarada afirmou; “É, para mim em particular, um momento de grande tristeza. Trata-se de um amigo, um camarada, de alguém com quem tive a oportunidade de privar, de aprender muito, e que nos deixa”.
Eduardo Lourenço é mais velho de sete irmãos, e filho de um militar do exército, frequentou a escola primária da aldeia onde nasceu e matriculou-se, posteriormente, no Colégio Militar, em Lisboa, onde concluiu o curso em 1940.
Inscrito na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, de que desistiu. Mais tarde, inscreveu-se em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras na Universidade.
Concluiu a licenciatura em 1946, com uma tese sobre “O Sentido da dialética no idealismo absoluto”.
No ano seguinte, passou a lecionar como assistente e colaborador do professor Joaquim de Carvalho e, em 1949
Prémios, condecorações e distinções
Em 1988, como professor jubilado da Universidade de Nice recebeu o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, pelo conjunto da sua obra. Um ano depois, assumiu o cargo de conselheiro cultural junto da embaixada de Portugal em Roma, onde permaneceu até 1991.
Continuou a receber vários prémios, com destaque para o Prémio Camões, em 1996, e o Prémio Pessoa, em 2011.
Recebeu ainda os prémios António Sérgio (1992), D. Dinis (1996), Vergílio Ferreira (2001), Universidade de Lisboa (2012), Jacinto do Prado Coelho (em 1986 e em 2013) e Vasco Graça Moura (2016), entre outros.
Foi condecorado e distinguido com as ordens de Grande Oficial de Santiago e Espada (1981), a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1992), a Grã-Cruz da Ordem de Santiago e Espada (2003) e a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade (2014).
França atribui-lhe a Ordem Nacional de Mérito (1996), a Ordem das Artes e das Letras (2000) e a Legião de Honra (2002), e em 2008 recebeu a medalha de Mérito Cultural do Governo Português e a Ordem de Mérito Civil de Espanha.
Doutorado Honoris Causa pelas Universidades do Rio de Janeiro, de Bolonha, de Coimbra e pela Nova de Lisboa, tomou posse, a 7 de abril de 2016, como Conselheiro de Estado, designado pelo atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Nesse ano, venceu o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, ex-áqueo com o cartoonista francês Jean Plantureux, conhecido como Plantu.