Cruzeiro

De Odivelas para o Mundo

Faixa Atual

Título

Artista

Atual

Atual


“46 anos do único Partido de Direita fundador do regime democrático português!”

Escrito por em Julho 24, 2020

OPINIÃO
“46 anos do único Partido de Direita fundador do regime democrático português!”
Por João Pedro Galhofo

À Direita só há um Partido fundador da Democracia portuguesa- o Centro Democrático- Social- que comemorou no passado dia 19 de Julho os seus 46 anos de existência, e porque não dizê-lo de sobrevivência política, em Portugal: São 46 anos de combate ao Socialismo em Portugal e com essa missão tão antiga só podemos contar com o CDS!

São 46 anos de líderes históricos e de personalidades ímpares que projetaram um Partido humanista alicerçado na Democracia-cristã, corrente de pensamento que vingou em toda a Europa após a II Guerra Mundial como poucas. O CDS-PP tem um papel insubstituível no regime democrático português, do qual é o único partido fundador não socialista, tendo servido de fronteira a todos os extremismos e radicalismos através da teoria política da equidistância idealizada pelo nosso fundador Prof. Diogo Freitas do Amaral, desaparecido o ano passado em plena Campanha das Legislativas 2019. No Volume II das suas Memórias Políticas o referido autor dá-nos a conhecer as primeiras reacções à fundação do primeiro Partido de Direita após a transição para o regime resultante da Revolução de 25 Abril, ainda antes da Estabilização democrática a 25 de Novembro de 1975:

No final, choveram as perguntas. Na prática, resumiam-se a 3 questões fundamentais, todas feitas pela Esquerda Marxista.

1) Era o CDS defensor do regresso ao antigo regime? Não era. Nós apostávamos na Democracia e só nela aceitaríamos viver.

2) Era o CDS o partido da Igreja? Não era. Nós tínhamos um programa “de inspiração cristã”, mas reconhecíamos aos católicos, de acordo com a doutrina conciliar do Vaticano II, o direito de escolherem livremente o seu partido político. E pela nossa parte não pretendíamos representar a Igreja, e muito menos comprometê-la.

3) Era o CDS o partido da alta finança e da grande burguesia? Não era. Nós éramos um partido democrático, aberto a todas as classes sociais, e pretendíamos ser, como todos os partidos da grande família democrata-cristã europeia, um partido inter- classista e popular.

Estava lançado o CDS! A nossa emoção era enorme. O nosso sentido de responsabilidade também. Fizemo-lo com boa intenção e com alegria. Passámos, é certo, um doloroso calvário: mas se fosse hoje, voltaríamos com certeza a fazer o mesmo, correndo o risco de lutar pelas nossas ideias. 

O CDS nunca teve uma vida fácil, desde a sua fundação e os primeiros centristas sabem-no bem. Recordo a esse propósito um famoso episódio que faz este mesmo ano, 45 anos desde o Cerco ao 1º Congresso do CDS no Palácio de Cristal no Porto (hoje Pavilhão Rosa Mota). Este episódio que data de 25 de Janeiro de 1975, durante o qual milhares de manifestantes de extrema-esquerda ligados ao PREC cercaram os mais de 700 congressistas que ficaram retidos no interior do pavilhão do Palácio de Cristal sob ameaça de fogo e até com alguns tiros cruzados no exterior. Imagina-se que terão sido as 12h mais longas vividas pelos primeiros centristas, entre os quais recordamos terem sido cercados Diogo Freitas do Amaral (então Presidente do Partido), Adelino Amaro da Costa (então Secretário-geral), Victor Sá Machado, Francisco Lucas Pires, José Ribeiro e Castro e António Lobo Xavier (então dirigente da JC- Juventude Centrista). 

O CDS foi o 2º Partido político português a ser legalizado após o 25 de Abril, conseguindo aprovação do Supremo Tribunal de Justiça a 13 de Janeiro de 1975 e tinha escolhido o Porto para a realização do seu 1º Congresso exactamente por ter maior implantação a Norte do País. Apesar das dificuldades sentidas em vários pontos do País (assaltos a sedes e contestação das milícias de extrema-esquerda), o Partido aproveitou a sua 1ª Reunião Magna para mostrar os seus apoios internacionais, convidando por isso vários dignitários internacionais da União Europeia das Democracias Cristãs, entre os quais membros de Governos europeus e Deputados de vários países estrangeiros. Logo após o anúncio do 1º Congresso, surgiram múltiplas ameaças à sua realização. “A realização no Porto do Congresso do CDS faz parte de uma ofensiva da burguesia contra a classe operária, no sentido de limitar os direitos democráticos das massas” escreveram então a Juventude Socialista (JS), a Liga Comunista Internacional (JCI), a Liga de União e Acção Revolucionária (LUAR), Partido Revolucionário do Proletariado (PRP-BR) e o Movimento de Esquerda Socialista (MES) na Convocatória da Manifestação marcada para 25 de Janeiro que visava precisamente impedir a 1ª Reunião Magna dos centristas, segundo manchete do Jornal de Notícias desse mesmo dia. Ao mesmo tempo, a Organização Comunista Marxista-Leninista Portuguesa (OCMLP), um grupo maoista com forte implantação no Norte do País e que era conhecido pelo nome do seu jornal, o Grito do Povo, também marcou outra manifestação, com trajecto diferente mas com igual ponto de encontro final: todos às portas do Palácio de Cristal. Nos dia 26 e 27 de Janeiro, os principais Jornais em toda a Europa davam a notícia do Cerco ao 1º Congresso do CDS e os representantes regressados aos seus países relataram momentos de pânico vividos no Porto. O Times dizia que o incidente era “um mau presságio para Portugal” enquanto o Daily Telegraph sugeria que o Cerco “reflectia uma técnica comunista clássica”. Em Bruxelas, Von Hassel condenou “abertamente o atentado à liberdade de expressão por parte dos extremistas de esquerda quanto ao congresso do CDS”, segundo reproduz o Comércio do Porto. Em Portugal, o PCP criticou a atuação da Polícia contra os manifestantes, tendo Álvaro Cunhal defendido que o seu Partido “não organizou, não participou e não apoiou as manifestações”. Já o MDP-CDE disse que o CDS não merece “solidariedade democrática”.  

Como se percebeu acima a vida do CDS e da Democracia- Cristã em Portugal nunca foi fácil, o que só se compreende num País maioritariamente Católico mas dominado por uma Esquerda pensante que ao longo de décadas implementou o seu marxismo cultural, uma cultural do relativismo moral e se apoderou dos meios de comunicação social tanto nacionais como locais. É precisamente neste contexto difícil que o CDS foi criado e é neste contexto, acrescido de novos experimentalismos partidários, tem sobrevivido apesar de todas as adversidades que nos impuseram, seja pela extremismos de Esquerda seja pelos populismos de Direito, perante os quais temos servido de fronteira. Não será preciso recordar a história do CDS repleta de protagonistas memoráveis, mas não nos bastando isso para lhe assegurar um futuro auspicioso, evoca-nos sempre para a velha máxima “Para o CDS nunca foi fácil, por isso resta-nos resistir e assim continuaremos”. Apesar dos tempos conturbados que a Direita portuguesa vive em virtude da falta de lideranças políticas mobilizadoras, no CDS nunca deixámos de estar sob Cerco dos Radicais e sempre soubemos resistir a todas as adversidades que estes nos impuseram.

Por último, nestes 46 anos de histórias do CDS deixo aos nossos leitores um excerto do primeiro artigo de opinião de Adelino Amaro da Costa escrito a 4 de Janeiro de 1980 no Semanário “O Jornal”, já enquanto 1º Civil a ocupar a função de Ministro da Defesa Nacional do Governo da AD, para que o comparem com a realidade política nacional actual:

Onde estamos hoje, em Portugal? Os herdeiros do PREC procuram preservar feudos. Perante essa realidade, aos moderados não resta outra solução que não seja a de alimentar, gradativa e firmemente, um certo anti- PREC. Terão de o fazer nos limites do possível de modo a que os rasgões sociais não ganhem o passo às mudanças jurídicas e políticas de forma a que o essencial da democracia política já alcançada progrida e se em amplie em vez de se atrofiar na tentação autoritária ou no beco sem saída da repressão, e de maneira a que a democratização económica, social e cultural avance em vez de regredir.”

João Pedro Galhofo
Presidente do CDS Odivelas